Lua em leão, não precisamos de mais tempo.

Hoje cedo enquanto curtia minha ressaca resultante do disparate de ontem, recebi um texto no whats app, desses que viralizam e as pessoas saem encaminhando de grupo em grupo, não tinha a autoria então de ante-mão peço que caso saibam de quem seja por favor me informem.Ajeitei um travesseiro sobre o outro, havia levado um colchão para o deck e lá passei a manhã com uma garrafa de café e uma jarra de água, o texto fala sobre “sucesso”, como a geração dos nossos avós, e depois dos nossos pais, enxergavam isso.

Coincidência ou não, uma moça que muito gosto me mandou uma mensagem agora a noite, contando me alguns de seus planos, de fazer comidinhas para vender, comidinhas Paleo inclusive, e se a proa navegasse bem a idéia era sair do escritório de advocacia que hoje trabalha.

– Abri um sorriso de orelha a orelha aqui moça… – disse a ela depois que li o seu plano.

– Sabia… Vc é a única pessoa que eu tinha certeza que não me chamaria de louca.

– A gente não precisa de mais tempo, precisamos de um tempo que seja nosso apenas

Amanhã é lua cheia em Leão, ela havia me dito um pouco antes de entrarmos nesse assunto.

O texto é um tanto grande então ele deve continuar no blog, ele começa assim…

Amigo formado em comércio exterior que resolveu largar tudo para trabalhar num hostel em Morro de São Paulo, amigo com cargo fantástico em empresa multinacional que resolveu pedir as contas porque descobriu que só quer fazer hamburger, amiga advogada que jogou escritório, carrão e namoro longo pro alto para voltar a ser estudante, solteira e andar de metrô fora do Brasil.

Você pode me dizer “ah, mas quero ver quanto tempo eles vão aguentar sem ganhar bem, sem pedir dinheiro para os pais.”. Nada disso. A onda é outra. Venderam o carro, dividem apartamento com mais 3 amigos, abriram mão dos luxos, não ligam de viver com dinheiro contadinho. O que eles não podiam mais aguentar era a infelicidade.

Engraçado pensar que o modelo de sucesso da geração dos nossos avós era uma família bem estruturada. Um bom casamento, filhos bem criados, comida na mesa, lençóis limpinhos. Ainda não havia tanta guerra de ego no trabalho, tantas metas inatingíveis de dinheiro. Pessoa bem sucedida era aquela que tinha uma família que deu certo.

 E assim nossos avós criaram os nossos pais: esperando que eles cumprissem essa grande meta de sucesso, que era formar uma família sólida. E claro, deu tudo errado. Nossos pais são a geração do divórcio, das famílias reconstruídas (que são lindas, como a minha, mas que não são nada do que nossos avós esperavam). O modelo de sucesso dos nossos avós não coube na vida dos nossos pais. E todo mundo ficou frustrado.

 Então nossos pais encontraram outro modelo de sucesso: a carreira. Trabalharam duro, estudaram, abriram negócios, prestaram concurso, suaram a camisa. Nos deram o melhor que puderam. Consideram-se mais ou menos bem sucedidos por isso: há uma carreira sólida? Há imóveis quitados? Há aplicações no banco? Há reconhecimento no meio de trabalho? Pessoa bem sucedida é aquela que deu certo na carreira.

 E assim nossos pais nos criaram: nos dando todos os instrumentos para a nossa formação, para garantir que alcancemos o sucesso profissional. Nos ensinaram a estudar, investir, planejar. Deram todas as ferramentas de estudo e nós obedecemos. Estudamos, passamos nos processos seletivos, ocupamos cargos. E agora? O que está acontecendo?

 Uma crise nervosa. Executivos que acham que seriam mais felizes se fossem tenistas. Tenistas que acham que seriam mais felizes se fossem bartenders. Bartenders que acham que seriam mais felizes se fossem professores de futevolei.

 Percebemos que o sucesso profissional não nos garante a sensação de missão cumprida. Nem sabemos se queremos sentir que a missão está cumprida. Nem sabemos qual é a missão. Nem sabemos se temos uma missão. Quem somos nós?

 Nós valorizamos o amor e a família. Mas já estamos tranquilos quanto a isso. Se casar tudo bem, se separar tudo bem, se decidir não ter filhos tudo bem. O que importa é ser feliz. Nossos pais já quebraram essa para a gente, já romperam com essa imposição. Será que agora nós temos que romper com a imposição da carreira?

 Não está na hora de aceitarmos que, se alguém quiser ser CEO de multinacional tudo bem, se quiser trabalhar num café tudo bem, se quiser ser professor de matemática tudo bem, se quiser ser um eterno estudante tudo bem, se quiser fazer brigadeiro para festas tudo bem!

 Afinal, qual o modelo de sucesso da nossa geração

 Será que vamos continuar nos iludindo achando que nossa geração também consegue medir sucesso por conta bancária? Ou o sucesso, para nós, está naquela pessoa de rosto corado e de escolhas felizes? Será que sucesso é ter dinheiro sobrando e tempo faltando ou dinheiro curto e cerveja gelada? Apartamento fantástico e colesterol alto ou casinha alugada e horta na janela? Sucesso é filho voltando de transporte escolar da melhor escola da cidade ou é filho que você busca na escolinha do bairro e pára para tomar picolé de uva com ele na padaria?

 Parece-me que precisamos aceitar que nosso modelo de sucesso é outro. Talvez uma geração carpe diem. Uma geração de hippies urbanos. Caso contrário não teríamos tanta inveja oculta dos amigos loucos que “jogaram diploma e carreira no lixo”. Talvez- mera hipótese- os loucos sejamos nós, que jogamos tanto tempo, tanta saúde e tanta vida, todo santo dia, na lata de lixo.

Lembranças de uma janela.

Não lembro ao certo qual era o assunto que proseávamos naquela tarde de domingo, lembro que estávamos sentados no banco comprido da mesa, fazendo o uso da luz que entra pelas janelas laterais aqui do hostel durante o dia. Na verdade talvez estivéssemos quietos… quase certo que estávamos quietos, ela lia um livro de cartas que tenho aqui, Cartas Extraordinárias, trás uma compilação de 125 “correspondências inesquecíveis de pessoas notáveis”, assim está escrito na capa.

Estávamos quietos mesmo, agora consegui me lembrar. Espetei um pedaço de queijo usando um garfo pequeno de madeira, desses que tem apenas um par de dentes e são usados para petiscar azeitonas e ovos de codornas cozidos, não me lembro o queijo, mas era um queijo gordo desses amarelos, cortei em formato de cubo em uma tabua também de madeira e deixei sob a mesa, também estavam duas canecas e uma garrafa de café que havia passado minutos antes, mergulhei o pedaço de queijo na caneca de café quente, esperei alguns segundos e então comi, muito me agradou o sabor e me pareceu um tanto familiar, me esforcei um pouco para tentar lembrar aonde eu havia comido queijo mergulhado no café, mas nada recente me veio a cabeça. Também não soube o porque tinha feito aquilo.

Espetei mais um queijo e pra dentro da caneca ele foi, antes mesmo deu comer esse segundo pedaço me veio a tona as papinhas que comia com meu avô João quando pequeno, sentado na janela do quarto dele, havia a janela e um espaço de não mais que 2 palmos e então, uma grade, ali eu sentava com os cambitos pra fora da grade e meu vô em pé do lado de dentro do quarto partilhava comigo uma caneca grande de papinha. Não foram poucas as vezes que, sem a presença do seu João e em outras situações que não essa quando estava ali para comer, meus irmãos fechavam a janela e eu então ficava trancado do lado de fora, esperando uma viva alma passar no quintal para pedir que abrissem a janela do lado dentro.

A tal papinha era de uma gostosura sem igual, café com leite quente, pedaços de pão de sal e o ultimo alimento, que trouxe a tona essa lembrança, pedaços de queijos, lembro-me como se fosse hoje pela manhã, cada colherada trazia 50% de chance de ter ou não um pedaço de queijo, era bom demais quando tinha, quando não tinha também acabava sendo.

Dos alimentos que compunham a papinha que Dona Elza fazia pra gente, eu consumo apenas o café e o queijo, mas daria um dente da frente e comeria o pão, tomaria o leite… se pudesse mais uma vez que fosse, partilhar uma papinha na janela com meu avô João. Que saudade daquele velho de fonética engraçada, ele não tinha o céu da boca, mas sempre entendi todo que ele falava, sempre… desde a época em que meus cambitos passavam naquelas grades da janela.

Mensagem recebida no dia do meu aniversário de 28, ou 29 anos, e um trecho de um Poema de Fernando Pessoa.

Saulo, 28 ou 29 são idades bonitas. (30 é uma beleza, é quase como ouvir a agulha num vinil pela primeira vez!!! Não que eu saiba o que é ter 30! Hehe)…Eu passei uma vista rápida nos seus posts e foi o suficiente pra perceber que vc está mais feliz do que o usual. Sua família e amigos estão dividindo com vc a “passagem das horas” exatamente onde há algum tempo foi preciso tomar a decisão de virar a proa…(difícil e corajosa decisão) Eu fico feliz que as coisas tenham ido por esse caminho…(de verdade).

Por isso, um trecho dum poema de Fernando Pessoa:

A Passagem das Horas

” Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que se não pode fechar de cheio,

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei,

Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,

Ou de tombadilhos, sonhando,

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero

(…)

Sentir tudo de todas as maneiras,

Viver tudo de todos os lados,

Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,

Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos

Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,

Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,

Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,

Seja uma flor ou uma idéia abstrata,

Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.

E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.

(…) (Fernando Pessoa)

Velha roupa colorida.

6:47a.m Terça-feira, 17 de Janeiro.
Chove desde a madrugada de Domingo, sei da importância da chuva, pra ser sincero dias de chuva muito me agradam, as vezes pra correr na montanha e na maioria das vezes pra ficar sentado com uma coberta tomando café e lendo alguma coisa, na Terra Fria eu gostava de ficar na rede da varanda, não colocava nada pra tocar na Nina, fazia do barulho da chuva no telhado, a única trilha sonora, em tempos em tempos o Everest saía da casinha, ganhava uma afanada na cabeça e voltava pro seus aposentos.

Aqui no novo hostel gosto da poltrona da sala, a que fica a direita da lareira, meu irmão costuma dizer que essas poltronas, que ganhei de uma tia de meu pai, tem um conforto de um Monza Tubarão cor vinho, eu não entendo bulhufas de carro, mas ele diz tanto isso que deve de ser verdade.

Tenho um saco de roupa suja pra lavar, um balde de pano de chão – esses terrivelmente sujos – e outro balde de roupa de cama, o tanque fica em uma área descoberta, não que eu me importe de me molhar, mas saber que as roupas vão custar a secar sem sol não me anima levantar aqui do Monza Tubarão de cor vinho.
Passei um café, na vitrola Falso Brilhante gira na rotação 33, Elis cantando Belchior, o lado A começa…

“Não quero lhe falar meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos…”

A primeira música termina, alguns segundos de silêncio entre uma faixa e outra, apenas o ruído da agulha e o barulho do cair da chuva, é possível ouvir o que parece ser palmas e alguns gritinhos da Elis, ela parece bem feliz durante a gravação, a dançante versão de “Velha roupa colorida” começa:

“Você não sente nem vê ; Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo; Que uma nova mudança em breve vai acontecer; E o que há algum tempo era novo, jovem; Hoje é antigo, e precisamos todos, rejuvenescer…

No presente a mente, o corpo é diferente; E o passado é uma roupa que não nos serve mais; No presente a mente, o corpo é diferente; E o passado é uma roupa que não nos serve mais…

…eu pergunto ao passarinho: -Black Bird, o que se faz? (Raven, rever, raven, rever, raven.)

Black Bird me responde: -Tudo já ficou atrás. (Raven, rever, raven, rever, raven)

Assum Preto me responde: -O passado nunca mais.”

Termino a primeira caneca de café, deve ser a primeira de muitas num dia como hoje, devo desligar a vitrola assim que terminar de escrever isso que estão a ler, apanhar na poltrona do lado o primeiro de uma coleção completa do Saramago, no livro 1, esse que ganhei, temos as seguintes obras: Memorial do Convento – esse que estou a ler -; Levantado do chão; Manual de pintura e caligrafia; O ano de 1993; As pequenas memórias.

Talvez seja uma boa maneira de se começar uma terça-feira chuvosa, discos, livros, café…  talvez eu precise comprar uma máquina de lavar roupa.

100 post no insta do @paleobergue e um pequeno causo.

7:24a.m sexta-feira 13, de janeiro!.

Hoje o instagran do @paleoberrgue chega em sua centésima postagem, muita água rolou nesses 100 posts sobre o hostel, água quente, filtrada no coador com pó de café. 

O perfil existe desde a metade  de Novembro, não me lembro exatamente o dia, mas me recordo que decidi criá-lo depois de uma conversa com um amigo em São Paulo, ele dizia que, se agora o Paleobergue deixara de ser um hobbie passando a ser a fonte principal das pratas que colocam comida na mesa e pagam o seu próprio aluguel, ele deveria de ter um canal a parte, pois a @comapaleo já virara um samba do criolo doido, sem assunto específico, disse que isso não era ruim mas que um perfil dedicado ao hostel – menos pessoal e mais profissional – seria importante se eu quisesse fazer a coisa acontecer. 

Franzi a testa e não gostei do que ouvi, a palavra “profissional” não me agrada, antes de qualquer coisa o Paleobergue é minha casa, onde estão meus livros, meus discos, o moedor de minha avó, o radinho de meu avô, Nina minha vitrola, Saramago, Clarice e Vinícius minhas máquinas de escrever. 

Aquelas palavras entraram por um ouvido mas não saíram pelo outro, ao contrário do que falam por aí eu considero o que as pessoas dizem, o Gamarra tinha razão, eu precisava de um perfil dedicado ao hostel. 

Chegando em Gonçalves criei o perfil, confiante que conseguiria manter uma linguagem “mais albergue menos Saulo”, mera ilusão, poucos dias depois eu já estava chamando os caras de patife, as moças de “moça”, os filhos das moças de cria, e quando me dei conta era o Saulo que estava ali respondendo as dúvidas sobre hospedagem, disponibilidade de vagas e segredos das omeletes.

No frigir dos ovos eu gostei da direção que a proa tomou, o paleobergue por mais proporção que tenha tomado nesse primeiro mês de portas abertas, continua sendo minha casa, a Nina está na sala, já foi vítima da cria de um casal que passou a virada do ano aqui, o pivete achou que era aquelas mesas de DJ (não sei o nome correto), e meteu o dedo, não sei dizer qual talvez tenha sido até mais de um, no Jorge Ben que estava girando em sua rotação normal, eu estava na cozinha picando uma lingüiça de porco que acabara de fritar na banha quando pude ouvir ” … nho quase calado um coração apaixonadeeeeziinoxiiioça ….”, fechei parcialmente um dos olhos e virei o rosto levantando a sobrancelha, pude ver o menino de cabelos lisos cor de trigo, de costas pra mim e de frente pra Nina, e eu com a faca engordurada de porco ainda na mão. Que perigo rapaz!

Cafeteira Turca, balde leiteiro e meu irmão Deco.

6:12a.m Terça-feira, 10 de Janeiro.

Estou sentado no fogão a lenha, tentando imaginar como deve de ficar essa parede que antes do meio dia mudará de cor, acordei com o galo, desci do mesanio aonde estou dormindo e tirei um café na Turca, parei de usar os quartos, decidi deixá-los sempre pronto para que consiga receber hóspedes a qualquer momento. Fazia um bocado de tempo que eu não colocara pra trabalhar, falo da cafeteira Turca, isso porque ela faz pouco café e o Deco, meu irmão mais velho, está passando um tempo aqui comigo. 

O lustre que no antigo Paleobergue ficava na sala, agora, fica na cozinha, ele foi estrategicamente colocado em uma altura que não permite que a luz da cozinha não chegue no mesanino, é um balde leiteiro que deu certo na vida, não que os demais baldes não tenham valor, mas esse aí saiu da curva. 

Em Dezembro já passara 15 dias aqui, me refiro ao Deco, retornou para São Paulo uma semana antes do Natal, arrumou uma trouxa de roupa e na segunda-feira voltou comigo para Gonçalves. Deve de passar uma temporada por essas bandas, quem sabe não fica de vez, está me dando uma mão aqui no hostel e além de tudo a vida é boa por aqui, já passou da hora dele sair da casa de meus pais, tem trinta e tantos anos, acho que é de 84, precisa aprender que a comida não fica pronta num estralar de dedos sob o fogão, que a roupa não surge limpa na gaveta, que o papel higiênico acaba e precisa comprar e que a louça… aaahh a louça, essa se deixar acumular pode se tornar o pior pesadelo do Homo Sapiens. Mais importante que todas essas tarefas domésticas, é aprender que nada, nem ninguém, baterá mais forte que a vida, a mesma que eu disse ser boa aqui pelas bandas das Gerais, tem uma direita que, tanto em São Paulo quanto aqui nas montanhas da Mantiqueira, pode te fazer ver mais estrelas do que o céu da Terra Fria pode comportar, e não se trata do quão forte você consegue revidar, e sim do quanto se agüenta apanhar e ainda continuar de pé. Agora vou vestir um moletom cinza e uma touca preta e sair correndo até a escadaria da Matriz. 

Primeiro post de 2017.

6:18a.m Sábado, 7 de Janeiro.
Ainda não clareou o dia mas já é possível ver um tom de azul nas janelas de vidro da cozinha do Paleobergue, arrisquei uma foto ainda deitado aqui na terceira cama do mesanino, até que pouco apareceu as manchas escuras que insistem em estragar minhas fotos, devido a isso resolvi postar.
Tenho 4 hóspedes esse fim de semana, preciso levantar até as 7:00a.m para começar a preparar o café que sirvo depois das 8:00a.m, não vou arriscar voltar a dormir porque sempre perco a hora quando faço isso.

Ouvi um barulho e ao virar a cabeça pra trás, sem ao menos levantar do travesseiro, pude ver o galo passando pelos vidros da porta principal, é uma bela porta essa, além dos vidros transparentes tem alguns coloridos, desses que lembram vidraças de igreja.

O café da manhã do hostel nada tem de especial, não é um café colonial desses que o cabra acorda e tem um banquete a espera, o que faço é adiantar algumas coisas, deixo o bacon fatiado, e um pouco dele picado, ralo o queijo, passo a tapioca na peneira e distribuo na mesa manteigas, mel e frutas, essa ultima tenho variado, hoje por exemplo terei abacate, morangos e lichia, devo levar ao forno bananas com canela. Tiro um café na Italiana, esse é pra mim, verifico como está meu pó, coloco uma música tão baixa em um radinho que só se pode ouvir quando a barriga está a encostar na pia.

Quando o hóspede acorda pergunto como quer que prepare seu ovo caipira, dou de 3 a 4 opções, faço o mesmo com o café, esse pode ser coado, tirado na cafeteira Italiana ou Turca. As vezes tem pão de queijo (hoje tem), sempre tem tapioca.

O Deco dorme até a hora que deixar, o horário que o acordo depende das tarefas que temos a fazer, se festamos na noite anterior ou temos panos para lavar, 7 horas já está de pé me ajudando, do contrário dorme até as 8… 9 !

Essa tem sido a rotina quando tenho hóspedes aqui, as vezes o galo passa na porta, as vezes não.

Sobre a saída do Café e sobre o novo Paleobergue.

11:40p.m, Quinta-feira 17 de Novembro/16

Acabei de chegar na Terra Fria, são quase meia noite, passei o dia na cidade, na verdade passei o dia na padaria usando a internet e tomando “água de chapéu”, é assim que eu chamo o café coado deles, água de chapéu, chamo assim porque tem gosto daquela que fica parada no  chapéu do tropeiro em dias de chuva.

Passei o dia criando algumas coisas para o novo Paleobergue, quando me dei conta o sino da igreja já badalava 8  vezes e a padaria estava fechando, é verdade que eu tivera grandes idéias mas todas muito cruas ainda, na minha ultima ida a São Paulo durante um rápido almoço com amigo, fui convencido que devia de criar uma Fanpage e um perfil no Instagran dedicado para o Paleobergue, algo que focasse mais no hostel, sem grandes devaneios e nem disparates, que eles continuassem a acontecer no meu perfil pessoal. Concordei e terminamos de comer a parmegiana que, sem cerimônias, deixei que ele pagasse.

Acabei passando no Libertas – minha taberna preferida em Gonçalves – eu não estou podendo gastar dinheiro, contudo, não achei má idéia tomar uma caneca de vinho enquanto terminava de fazer o que comecei a tarde na padaria.

O último domingo de Outubro foi meu ultimo dia de labuta no Café, após pouco mais 1 ano atrás do balcão da livraria e centenas de cafés tirados, senti que chegou a hora de tomar as rédeas do meu tempo, seja lá o que isso signifique na prática. Outro fator decisivo para minha saída é que muita coisa mudou depois que o Café foi vendido, não necessariamente para melhor ou para pior, simplesmente mudou, e mesmo eu que geralmente lido bem com mudanças, acredito não ter me adaptado bem. A verdade é que não consigo mais seguir ordens, a idéia de ter de responder a alguém e cumprir horários me causa náuseas, acabei entregando o avental de Barista do Café com Verso mesmo gostando por demais da rotina em dias de muito movimento, onde modéstia a parte, eu parecia um monstro “Débrouillard” de 3 mãos.

Continuar lendo “Sobre a saída do Café e sobre o novo Paleobergue.”

1 ano depois…

Quarta-feira, 14 de Setembro.  Terra Fria – Gonçalves/MG

Há exatos 12 meses atrás, minha cabeça estava a mil por hora, os pensamentos giravam feito um cão em volta de si mesmo buscando o próprio rabo. No dia seguinte eu iria levantar cedo, vestir um jeans, uma camisa qualquer, calçar meu único sapatênis, que comprara há quase 2 anos atrás, e ir para Pfizer. Nada de diferente do que eu havia feito nas manhãs de terças-feira dos últimos 6 anos e 9 meses, nada fora do comum… se não fosse o fato daquele dia seguinte ser o meu último dia de trabalho.

Eu já havia devolvido as chaves do apartamento que loquei por quase 2 anos e estava dormindo temporariamente na casa de meus pais em Itaquera.  Sei o tempo de uso daquele sapatênis porque me recordo de comprá-lo na primeira semana que passei a morar sozinho, achei que uma morada nova merecia sapatênis novos – mentira, os meus antigos já estavam com a sola esburacada e eu vivia a molhar a meia com qualquer garoa que viesse a cair. Tratei de comprar o sapatênis em uma das dezenas de lojas que há naquele calçadão perto da UNG, a faculdade que eu cursava Farmácia na época, um pisante até que bonito pelo preço, achei que não duraria 6 meses.

Eu já escrevi um texto sobre o que foi aquele meu último dia de labuta, tenho ele aqui postado no blog, agora passado um ano acredito que já é possível fazer um balanço de qual rumo as coisas tomaram após meu barco ter velejado aqui para o Sul das Minas Gerais e ancorado aqui na Terra Fria.

Não tem mar em Minas Gerais, eu sei, eu escrevo dessa forma babaca porque acredito que não há metáfora melhor que fazer da vida um barco, desses veleiros que navegam com o auxilio do vento, que possuem um mar de possibilidades caso o tripulante, consideramos então nosso coração como tal, tenha autonomia para trabalhar com as velas para onde bem entender.

Estou escrevendo com um pouco de atraso, então já aviso que deve de ser mais um daqueles textos que sobem sem revisão,  é amanhã que se completa o tal “1 ano depois…”, eu lembrei no começo do mês mas viajei na primeira semana para competir na montanha, depois voltei e acabei por esquecer de escrever alguma coisa, mesmo as pressas vou tentar o máximo tornar esse texto intimista, sei o que acontece com textos que abordam esse tipo de coisa – escolhas por uma vida mais simples; largar “tudo” para fazer o que se gosta; ir na contramão da sociedade e blah blah blah – esses carinhas se tornam viral, e na maioria das vezes passam a ideia de serem as opiniões mais certas do Planeta Terra, mas eu acredito que não existe o certo e errado quando o assunto são escolhas: cada um sabe o peso das suas e as conseqüências que lhe trazem.

Continuar lendo “1 ano depois…”

Aniversário de 1 ano de blog !!!

Hoje, dia 1 de Setembro de 2016, o Blog da Coma Paleo completa 1 ano de existência, venho através deste post agradecer a todos que por aqui passaram e dedicaram alguns minutos para, além de tirar o pó,ler o patife que vos escreve. Obrigado!

Tivemos pouco mais de 20 postagens, 15 dias depois de criado eu fiquei sem computador e então esse trem ficou as moscas com uma ou 2 postagens ao mês. Recentemente o domínio www.comapaleo.com venceu, eu estava em dúvida se renovava ou não, afinal não estou podendo gastar dinheiro (não o tenho na verdade), fui convencido e acabei renovando. Mediante a isso prometo no final desse ano e no decorrer do ano que vem, manter esse trem em atividade ! 

Mas uma vez, obrigado malta!